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O Amor nas Poesias de Fernando Pessoa

O universo poético de Fernando Pessoa é um cenário rico em nuances emocionais e reflexões profundas. Entre os temas que ele explorou com maestria, o amor ocupa um lugar especial. Neste post, mergulharemos em duas poesias do autor que capturam diferentes aspectos do amor e faremos uma análise breve de cada uma.


1. Amo como Ama o Amor


MARIA:

Amo como o amor ama.

Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.

Que queres que te diga mais que te amo,

Se o que quero dizer-te é que te amo?

Não procures no meu coração...

Quando te falo, dói-me que respondas

Ao que te digo e não ao meu amor.

Quando há amor a gente não conversa:

Ama-se, e fala-se para se sentir.

Posso ouvir-te dizer-me que tu me amas,

Sem que mo digas, se eu sentir que me amas.

Mas tu dizes palavras com sentido,

E esqueces-te de mim; mesmo que fales

Só de mim, não te lembras que eu te amo.

Ah, não perguntes nada, antes me fala

De tal maneira, que, se eu fora surda,

Te ouvisse toda com o coração.

Se te vejo não sei quem sou; eu amo.

Se me faltas, (...)

Mas tu fazes, amor, por me faltares

Mesmo estando comigo, pois perguntas

Quando deves amar-me. Se não amas,

Mostra-te indiferente, ou não me queiras,

Mas tu és como nunca ninguém foi,

Pois procuras o amor pra não amar,

E, se me buscas, é como se eu só fosse

O Alguém pra te falar de quem tu amas.

Diz-me porque é que o amor te faz ser triste?

Canso-te? Posso eu cansar-te se amas?

Ninguém no mundo amou como tu amas.

Sinto que me amas, mas que a nada amas,

E não sei compreender isto que sinto.

Dize-me qualquer palavra mais sentida

Que essas palavras que, como se as perderas,

buscas

E encontras cinzas.

Quando te vi, amei-te já muito antes.

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há coisa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que não o fosse porque te previa,

Porque dormias nela tu futuro,

E com essas alegrias e esse prazer

Eu viria depois a amar-te. Quando,

Criança, eu, se brincava a ter marido,

Me faltava crescer e o não sentia,

O que me satisfazia eras já tu,

E eu soube-o só depois, quando te vi,

E tive para mim melhor sentido,

E o meu passado foi como uma estrada

Iluminada pela frente, quando

O carro com lanternas vira a curva

Do caminho e já a noite é toda humana.

Tens um segredo? Dize-mo, que eu sei tudo

De ti, quando m'o digas com a alma.

Em palavras estranhas que m'o fales,

Eu compreenderei só porque te amo.

Se o teu segredo é triste, eu saberei

Chorar contigo até que o esqueças todo.

Se o não podes dizer, dize que me amas,

E eu sentirei sem qu'rer o teu segredo.

Quando eu era pequena, sinto que eu

Amava-te já hoje, mas de longe,

Como as coisas se podem ver de longe,

E ser-se feliz só por se pensar

Em chegar onde ainda se não chega.

Amor, diz qualquer coisa que eu te sinta!

FAUSTO:

Compreendo-te tanto que não sinto.

Oh coração exterior ao meu!

Fatalidade filha do destino

E das leis que há no fundo deste mundo!

Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto

De o sentir...?

MARIA:

Para que queres compreender

Se dizes qu'rer sentir?


Análise: Neste poema, Pessoa aborda a simplicidade e a pureza do amor. Ele reflete sobre a natureza intrínseca do amor, expressando que amar é uma ação em si mesma. O uso repetido da palavra "amo" enfatiza a intensidade e a profundidade do sentimento, enquanto a última linha sublinha a importância de expressar o amor de forma direta e sincera.


2. O amor é uma companhia

Já não sei andar só pelos caminhos,

Porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa

E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.


Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.

Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Análise: Nesta poesia, Pessoa explora a ideia de que o amor é uma presença constante na vida. Ele descreve como o amor se torna uma companhia inseparável, transformando a experiência de caminhar pela vida. A mudança de perspectiva do poeta, de não poder mais andar sozinho, mostra a influência transformadora do amor, que torna a solidão uma sensação quase impossível.


Convidamos você a explorar mais da obra de Fernando Pessoa para se aprofundar na riqueza de seus escritos sobre o amor.

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