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Análise Poética: "Não Sei Quantas Almas Tenho", por Fernando Pessoa




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No universo poético de Fernando Pessoa, a exploração da identidade, da multiplicidade do eu e das complexidades da consciência humana é uma constante. Em seu poema "Não sei quantas almas tenho", o poeta mergulha na reflexão sobre a natureza fluida e multifacetada do self. Estrofe 01 Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. A cada momento, Pessoa se percebe como uma entidade em constante mutação. Ele se estranha e se questiona, admitindo que nunca se viu completamente nem alcançou um estado final. Essa introspecção contínua resulta em uma profunda inquietude interior, a sensação de que, por ser tantos em um só, sua alma nunca encontra paz. Aqui, a alma não é um refúgio de tranquilidade, mas um oceano inquieto de mudanças e contradições. Estrofe 02 Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. O poema continua com uma distinção intrigante entre "ver" e "sentir". Quem apenas "vê" não se conecta com a essência mais profunda da existência, enquanto aquele que "sente" mergulha nas profundezas de sua alma. Pessoa parece argumentar que a verdadeira compreensão de si mesmo não é alcançada apenas pela observação externa, mas pela exploração interior de sentimentos e emoções. Estrofe 03 Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Apoiando-se na ideia de que a autoconsciência é fluida e em constante evolução, Pessoa afirma que ele se torna "eles" e não "eu". Ele é múltiplo, uma miríade de identidades que se sobrepõem e se transformam ao longo do tempo. O poeta observa sua própria existência como quem assiste à passagem de uma paisagem em constante movimento, sem nunca se fixar em um estado estático. A última estrofe do poema ressalta a ideia de que Pessoa está constantemente se lendo como se lesse as páginas de um livro. Ele reconhece que muitas vezes não compreende plenamente a profundidade de suas próprias emoções e experiências passadas, e que o que acredita ter sentido pode se tornar um enigma para ele mesmo. O poema conclui com uma alusão à divindade, sugerindo que Deus, como o autor de sua própria história, é quem realmente conhece o significado de sua existência multifacetada. Estrofe 04 Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que sogue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. "Não sei quantas almas tenho" é uma profunda reflexão sobre a complexidade da identidade e da consciência, apresentando o eu como uma entidade em constante mudança e questionamento. Fernando Pessoa nos convida a explorar as camadas ocultas de nossa própria alma e a reconhecer a natureza intrincada de nossa existência. É um poema que nos lembra da busca eterna pelo autoconhecimento e da incerteza que permeia nossa compreensão de quem somos.

Mafra Editions e Jamila Mafra

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